28/11/2006

GEOGRAFIA DE APELO AOS MORTOS

Considero justo o comentário que faço, quando digo que a leitura de certos livros deixa a vida no que representa de relações entre os homens, diminuída de beleza. De beleza, de interesse e de sentido, se observada nas desoladas sequências que conduzem o homem do nascimento à morte, num carrocel de banalidades, suficiências e resignações anónimas.
O famoso drama da servidão humana é drama muitas vezes culminado em tragédia, já se sabe. Porém, drama com um não sei quê de crendices e superstições à mistura.
Precisando mais: a vida real, não a transfigurada pela fome insaciável de beleza dos poetas, é um deserto misterioso de ignorância e estupidez, onde se movem e imobilizam milhões de criaturas para nada, sem se interrogarem porquê. É quase uma geografia de apelo aos mortos o deserto misterioso que é a vida real. São quase mortos, pode dizer-se assim dessas multidões vivas sem ideias.
Essa pobre gente não foi nem é cristã. Mas também nunca soube ser pagã com todo o seu carácter de força cega entre todas as outras forças cegas da Natureza. É escrava. Apenas escrava.

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