25/11/2006

CABEÇAS DE LUZ

Ah! Como eu queria que tudo em mim se transformasse em luz!
Diante das grandes sínteses do pensamento humano, o meu espírito foi inundado por essa claridade que torna inútil qualquer demonstração para se conhecer a verdade. Todas as evidências manejadas com génio, fazem fácil o difícil, conhecido o mistério, acessível o infinito.
Legião redentora de homens com cabeças de luz!
Sem eclipses de entendimento nem quebras de cansaço, essa raça de eleitos foi capaz de vencer as escuridões e os silêncios de um mundo condenado a girar no espaço sem quê nem para quê, como outros planetas mortos ou mal vivos.
Eu não fui dos que receberam a luz gratuìtamente. Paguei-a por um preço elevadíssimo de esforços e sacrifícios que me deixaram pouco tempo e poucas forças, para a transmitir aos outros.
Não lastimo o facto. Clamo, sim, contra os criminosos que fizeram de mim tudo aquilo que não chego a ser: uma claridade entre as trevas deste tempo de mecanomanias, violências, fomes, injustiças, e que mais?

24/11/2006

GRANDE HOMEM E FRACASSADO

Grande homem e fracassado! Eu próprio testemunho esses dois destinos, sem vaidade. Poderia considerar enorme a minha capacidade artística, se a consciência me não obrigasse a confessar derrotado na tentativa de fabricar um anjo, que não chego a ser.
Pureza demasiada resulta hipocrisia calculada. Desprevenido, quiz o talento aliado à virtude, mas qualquer dos dois deixou de ser militante para agir como bandeira de uma causa perdida. A revolta convence e tranquiliza mais do que a paz de uma vida sem regresso de imortalidade.
Não basta olhar de frente. O absolutamente necessário é que o olhar seja inocente. O alarme nos outros só é provocado quando a tranquilidade da inocência se funde com a intranquilidade da sabedoria.
Conheci o mal, mas preocupei-me sempre com o bem. E isso foi um erro, porque a minha alma arde no fogo das misérias deste Mundo. Também a sombra do meu orgulho projectada pela vontade de ser livre, se consumirá nas labaredas da fogueira.
Esta reflexão é como que uma maldição obscura aos coveiros da minha glória.
A minha glória viverá na simpatia de uma flor que crescerá no túmulo dos meus sonhos irrealizados.

23/11/2006

O RESTO É MEDO E METRALHADORAS

Vieram até mim ecos do passado, do presente e do futuro. Enganadores, uns, verdadeiros, outros. E eu ouvi: o homem é a voz débil ou forte de um cérebro pensador.
Quem disse que era necessário uma rajada de metralhadora para o calar? Uma bala basta para lhe dar a morte. Mas há balas que enobrecem, quando se sabe morrer com dignidade. Além disso, as balas ignoram a vantagem que têm sobre a vulnerabilidade do homem.
O pensamento eleva o homem a um princípio de moral que o obriga a pensar bem. Devemos ser, viver e agir nas palavras que formulam a ética da inteligência e dignificam a condição humana.
O resto é medo de metralhadoras e de tiranos. E isso, se é próprio de homens, não os deve resignar à morte sem protesto.
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