Às vezes os sonhos levam-nos a regiões de uma força evocadora de realidades passadas, irresistível. Frequentamos séculos anteriores à nossa era como se a coexistência de todos os tempos da história fosse uma teoria demonstrada por factos.
Procedente das águas de um rio antigo, vi-me transformado num mago singular, e chegado a uma das margens que tinha grande beleza natural e monumentos colossais. Ia ali por uma questão de operar prodígios na corte de um rei magnífico, mas acabei por ficar prisioneiro da torre mais alta do seu palácio. Dediquei-me então, ao cultivo das ideias, e descobri-me idealista.
Compuz elementos de uma larga série de concepções do Mundo que havia de alcançar realização perfeita e clássica no corpo de um livro. Mas não foi esse livro que me proporcionou a celebridade de que gozei no tempo do meu sonho. Foi o esforço original que consagrei a viver de mim para mim na solidão de uma prisão de renúncias materiais. Esse contar comigo sem me ocupar nem preocupar com o exterior à minha volta, teve como prémio a apoteose triunfal da minha vitória.
Nós, os idealistas, devemos um agradecimento imortal a Deus por nos ensinar a necessidade de vencermos a contingência das formas volúveis. Há aqui um quadrado de ideias equivalente a um círculo de pensamentos. Quer dizer: o conhecimento é a compensação que nos espera, quando do jogo das aparências elaboramos uma síntese que afirma a verdade.
Mago singular do sonho! devolve-lhe o teu envoltório mágico, e sê depois de acordado, um apóstolo dos valores eternos da cultura.